Quatro anos depois da morte de Marielle Franco, as investigações mudam de foco
Buscas. Inquéritos. Investigações.
O país ainda se pergunta.
Quem mandou matar a vereadora Marielle?
O capitão Morretes estava encarregado de resolver o mistério.
–Eu? Eu não.
Ele apagou o cigarro no cinzeiro de caveira.
–Já fui. Por um curto período de tempo.
Muitos policiais entraram e saíram do caso.
–Natural. Renovam-se as perspectivas e os métodos.
Morretes respirava fundo.
–Além disso, a pressão é forte demais.
Milicanos. Políticos. Militares.
–Não, é outra a pressão.
Os olhos azuis de Morretes assumiram um brilho de aço.
–É de vocês. Da imprensa. Só perturbam.
De qualquer modo, ele se sentia aliviado.
–Saí desse vespeiro.
O que não significa não ter novas responsabilidades.
–Estou cuidando de coisa muito mais importante.
Ele acendeu outro cigarro.
–Afinal, o que é um simples assassinato?
Era tranquilo o seu sorriso.
–Morre gente todo dia aqui.
A tarde ameaçava chuvas sobre a Baía da Guanabara.
–Essa atenção toda para o caso da Marielle… quer saber?
Ele fez cara séria.
–É antidemocrática. É elitista. É coisa de privilegiados.
Os papéis se acumulavam sobre a sua mesa de trabalho.
–Olha aqui o que eu tenho de investigar.
Morretes enumerou os nomes de vários políticos e autoridades.
–O Freixo. O Barroso. O Molon. O careca lá do tribunal.
Ele agitou o calhamaço de documentos.
–Aqui é que temos um verdadeiro mistério.
Os primeiros pingos de chuva caíram sobre as pedras da Cinelândia.
–Temos que saber é como a gente deixou todos esses escaparem.
Ele contempla a paisagem com nostalgia.
–Incompetência e amadorismo.
O rosto de Morretes se endurece.
--Sindicância séria. É disso que se trata.
Um golezinho de café.
–Por mim, não era só a Marielle não.
Ao longe, ouviam-se protestos. É o povo que grita.
–Marielle e Anderson não estão sozinhos.
Morretes assume um compromisso.
–Não vão ficar sozinhos não. Palavra de militar.
Muitos fatos se escondem.
Mas, quanto aos pensamentos, ninguém faz muito segredo.
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